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Faculdades de Medicina na Bahia: aumento de cursos, mas queda na qualidade do ensino

MEC aplicará exame para garantir qualidade e punir instituições com notas baixas no Enade

Por: Lorena Bomfim

22/08/202508:27

Nos últimos anos, o Brasil presenciou um crescimento considerável no número de faculdades de Medicina, mas esse aumento nem sempre foi acompanhado pela melhoria da qualidade do ensino. De acordo com avaliações como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), a disparidade entre a quantidade de cursos e a qualidade da formação dos futuros médicos é evidente.

Faculdades de Medicina na Bahia
Foto: Sarah Daltri/Divulgação

Na Bahia, das 35 instituições que oferecem o curso, apenas duas atingiram a nota máxima (5) no Enade: a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Outras seis instituições, das quais cinco são públicas, receberam nota 4. No entanto, aproximadamente 50% das faculdades no estado possuem notas insatisfatórias (nota 2) ou regulares (nota 3). A situação é ainda mais preocupante, pois outras dez faculdades não tiveram suas notas divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC).

Diante desse cenário, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que o MEC começará a aplicar, a partir deste ano, o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). O objetivo é garantir um padrão mínimo de qualidade na formação dos profissionais da saúde. As instituições com avaliações baixas poderão ser penalizadas com a limitação do número de novos alunos, suspensão do ingresso de novos estudantes ou até mesmo a exclusão de programas federais, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni).

Para Hélio Braga, diretor da Associação Bahiana de Medicina (ABM), a decisão do MEC, embora positiva, chega tardiamente. “Nos últimos anos, houve um crescimento desordenado de faculdades de medicina, muitas delas sem professores médicos e com profissionais de outras áreas, o que impactou diretamente na qualidade da formação e na assistência à saúde da população”, afirmou Braga.

Além das penalidades, a medida também visa reforçar a importância das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), aprovadas recentemente pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que buscam assegurar a qualidade dos cursos de Medicina no Brasil.

A Lógica Mercantilista

Humberto Castro Lima, vice-reitor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, a única instituição privada do estado a alcançar nota 4 no Enade, destacou a necessidade de um olhar mais atento sobre o ensino de Medicina no Brasil. Segundo ele, muitos cursos têm seguido uma lógica mercantilista, o que compromete a qualidade do ensino. “Os cursos de Medicina devem ser pensados para atender à saúde da população, e não como uma mercadoria”, ressaltou Lima.

A Realidade dos Estudantes

O contraste entre as faculdades públicas e privadas também se reflete na vivência dos estudantes. João Victor Monteiro, aluno da União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura (Unime), conta que a estrutura da sua faculdade deixa a desejar. “A estrutura aqui é precária. Não temos nem um projetor decente e o teto da sala vaza água. Apesar disso, a maioria dos alunos são de baixa renda e dependem do Fies”, disse.

Já Anannda Sampaio, estudante da Universidade Federal da Bahia, tem uma realidade bem diferente. “Na UFBA, temos uma unidade de universidade-escola, que proporciona uma experiência mais próxima da realidade do paciente, através do hospital universitário. Isso faz toda a diferença no aprendizado”, afirmou.

Essa disparidade entre as instituições reflete, para muitos, um problema estrutural que precisa ser enfrentado com urgência para garantir que todos os estudantes, independentemente da sua origem social, tenham acesso a uma educação médica de qualidade.