BR-324 tem alta de 40% em acidentes mesmo com menos veículos
Via teve 75 acidentes em junho, contra 55 no mesmo mês de 2024
Por: Iago Bacelar
09/07/2025 • 12:54
O médico Reinan Tavares, de 33 anos, percorre a BR-324 semanalmente entre Feira de Santana e Salvador há dez meses. Desde a saída da ViaBahia, ele relata um aumento nos buracos da pista e, com isso, maior sensação de insegurança. A percepção coincide com os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que apontam um aumento de quase 40% no número de acidentes em junho de 2025, comparado ao mesmo mês do ano anterior.
Segundo a PRF, foram 75 sinistros no mês, ante 55 registrados em 2024. Onze deles foram considerados graves, contra cinco no ano passado. O número de feridos subiu de 73 para 86 e foram registradas três mortes na via, enquanto em junho de 2024 não houve óbitos.
Infrações e trechos críticos contribuem para o cenário
Entre os principais tipos de sinistros estão colisões traseiras, tombamentos, queda de ocupantes, saída do leito carroçável e engavetamentos. A queda no fluxo de veículos, que passou de 1,5 milhão para 1,4 milhão no comparativo entre os junhos de 2024 e 2025, reforça a gravidade dos dados.
A chefe do núcleo de comunicação da PRF, Fernanda Maciel, aponta que grande parte dos acidentes está ligada a condutas imprudentes de motoristas.
“Quando a gente faz uma associação, a gente observa que a maior parte são sinistros de baixa complexidade e ocasionados por determinadas condutas de condutores, como a falta de atenção na condução, velocidade incompatível com a via e não manter a distância do veículo da frente. São pequenas condutas infratoras”, explicou.
Só em junho, o trecho entre Salvador e Feira concentrou 621 notificações por excesso de velocidade, além de 474 registros de trânsito pelo acostamento, 247 ultrapassagens irregulares, 208 motoristas usando celular e 138 passageiros sem cinto.
Período junino intensifica riscos e acidentes fatais
O mês de junho, historicamente mais movimentado por conta das festas de São João e São Pedro, concentrou problemas mecânicos, engarrafamentos e colisões traseiras, muitas vezes causadas pelo uso de celular e falta de atenção.
No dia 5 de julho, um acidente fatal envolveu um caminhão cegonha e um carro no km-533 da BR-324, em Conceição do Jacuípe. Duas pessoas morreram no local e houve lentidão de 30 minutos na região.
A PRF informou que intensificou o uso de radares móveis no período para coibir o excesso de velocidade e apelou para que condutores revisem seus veículos antes de pegar a estrada.
Manutenção da rodovia é responsabilidade do Dnit desde maio
Desde 15 de maio, após a suspensão da concessão da ViaBahia, os serviços de manutenção da BR-324 foram assumidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em nota, o órgão informou que tem atuado com tapa-buracos, recapeamento e limpeza mesmo durante o período chuvoso.
Segundo o Dnit, mais de cinco mil buracos já foram tapados e 35 quilômetros foram recapeados nas áreas urbanas de Salvador e Feira de Santana. O contorno Norte de Feira, com 7,2 km, também foi recuperado. O trecho era considerado um dos mais danificados e, segundo o Dnit, não recebeu intervenções anteriores da ViaBahia.
Durante o período junino, os trabalhos foram suspensos a pedido da PRF para evitar engarrafamentos e transtornos. A estimativa é de que a rodovia tenha registrado até 500 mil veículos por dia durante os festejos, cinco vezes mais que a média usual. A previsão do Dnit é que um novo leilão de concessão da BR-324 seja realizado até dezembro de 2025.
Reinan Tavares relata medo constante ao trafegar na via
A experiência de Reinan reflete os desafios enfrentados por quem depende da estrada.
“Em alguns trechos que eu percebia que tinham alguns buracos, logo em seguida, eu notava carros parados, caminhões parados e isso me gerou muita insegurança. Por conta disso, eu tenho dirigido com a velocidade reduzida, principalmente no período da noite. Eu estou com muito medo de acidente”, disse o médico.
Na última sexta-feira, ele caiu em um buraco e quase teve o pneu furado. Ele relatou ter visto vários carros parados na pista, com motoristas trocando pneus. A PRF informou que essas ocorrências podem ser contabilizadas como falha mecânica.