Logo
Menu

Esfera

Buscar

Áudios inéditos revelam últimas comunicações do voo 2283 antes da queda em Vinhedo

Pilotos da Voepass mantiveram contato constante com o controle aéreo, sem indicar falhas ou emergência

Por: Lorena Bomfim

03/08/202510:43

Um conjunto de áudios inéditos revela parte das últimas comunicações entre a tripulação do voo 2283 da Voepass e o controle de tráfego aéreo de São Paulo, momentos antes do acidente que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP), no dia 9 de agosto de 2024.

Avião Voepass
Foto: Reprodução/Jornal Nacional

Apesar do contato constante com os controladores, em nenhum momento os pilotos indicaram qualquer tipo de pane ou situação de emergência. As falas soam tranquilas e seguem o padrão esperado para uma aproximação de pouso.

O g1 teve acesso a mensagens trocadas em duas frequências diferentes, usadas conforme a posição do avião no espaço aéreo, e cruzou o conteúdo com os dados das caixas-pretas. As comunicações finais dos pilotos, feitas em uma terceira frequência, não aparecem nos áudios obtidos.

 A troca de frequências durante o voo é um procedimento padrão na aviação e ocorre à medida que a aeronave cruza regiões sob responsabilidade de diferentes centros de controle.

Neste sábado, o g1 também publicou o depoimento de um ex-funcionário que presenciou a última manutenção do ATR 72-500, realizada na madrugada anterior ao voo. Ele afirmou que, horas antes da decolagem, a aeronave apresentou falha no sistema de degelo, problema que impediria a viagem para Cascavel. A falha, no entanto, não foi registrada no diário de bordo e acabou ignorada pela liderança da manutenção.

O que mostram os áudios

As conversas entre a tripulação e o controle revelam a sequência de orientações e respostas nos minutos finais do voo.

A comunicação começa às 13h14min21s, quando o controle orienta a mudança de frequência:

13h14min21s

Controle: “Passaredo 2283, por gentileza, chame o controle de São Paulo na frequência 135,75 MHz.”

Piloto: “135,75, vai chamar Passaredo 2283. Obrigado.”

Já na nova frequência, o piloto confirma as informações meteorológicas:

13h14min36s

Piloto: “São Paulo, Passaredo 2283, informação Sierra.”

13h14min40s

Controle: “Passaredo 2283, confirme como recebe o controle.”

Piloto: “Com eco, senhora.”

13h14min49s

Controle: “Ok, Passaredo 2283, por gentileza retorne à frequência 120,925 MHz.”

Piloto: “120,925 vai retornar.”

Na frequência anterior, a conversa prossegue normalmente:

13h14min59s

Piloto: “São Paulo, Passaredo 2283.”

Controle: “Passaredo 2283, grata pela gentileza. Mantenha nível 170.”

Piloto: “170 vai manter. Não por isso, senhora.”

Minutos depois, a tripulação informa ter alcançado o ponto ideal de descida, mas recebe a orientação para permanecer na altitude de 5 mil metros:

13h18min21s

Piloto: “Ponto ideal de descida, o Passaredo 2283.”

Controle: “Passaredo 2283, mantenha nível 170.”

Piloto: “Mantendo nível 170, Passaredo 2283.”

Nesse momento, segundo dados da caixa-preta, o painel do avião indicava pela primeira vez um alerta de perda de velocidade — informação que não foi repassada aos controladores.

13h18min53s

Controle: “Passaredo 2283, chame o controle São Paulo na frequência 123,25.”

Piloto: “123,25 vai chamar o 2283. Obrigado.”
Cerca de 30 segundos após essa última troca, o painel registrou um segundo alerta de perda de velocidade, ainda mais grave.

As investigações continuam para apurar se a falha no sistema de degelo — revelada pelo ex-funcionário — pode ter contribuído para o acidente.