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Tarifa alta? Empresas usam brecha legal para adiar impostos nos EUA

Empresas adiam pagamento de tributos e buscam manter competitividade usando áreas isentas de impostos

Por: Lorena Bomfim

16/07/202515:00

Empresas nos Estados Unidos estão intensificando o uso de zonas de comércio exterior (FTZs, na sigla em inglês) como estratégia para evitar o pagamento imediato das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump. Criadas em 1934, durante a Grande Depressão, essas zonas permitem a importação de produtos sem a cobrança de tarifas até que os itens sejam liberados para o mercado interno.

Presidente Trump
Foto: Reprodução/Instagram @realdonaldtrump

Atualmente, há 374 FTZs ativas em todos os estados americanos e em Porto Rico. Nessas áreas, empresas podem armazenar ou até mesmo fabricar produtos com isenção tributária temporária. As tarifas só são aplicadas quando os produtos saem da zona com destino ao consumidor americano. Caso sejam exportados, nenhuma tarifa é cobrada.

Desde o anúncio das tarifas generalizadas feito por Trump em abril, o interesse pelas FTZs quadruplicou, segundo a empresa de logística Descartes. Em 2023, cerca de US$ 1 trilhão em mercadorias passaram por essas zonas — quase um terço de todas as importações dos EUA no ano, segundo dados oficiais.

“Essas zonas foram criadas num período de forte impacto tarifário, como o atual”, afirmou Jackson Wood, diretor de estratégia industrial da Descartes. “Por isso, voltaram ao centro das estratégias dos importadores.”

A estrutura das zonas varia — de pequenas salas em armazéns a grandes áreas industriais. Para operar em uma FTZ, a empresa precisa do apoio de um “beneficiário”, como uma cidade, porto ou aeroporto, que atua como intermediário junto ao Departamento de Comércio.

Em Phoenix, no Arizona, a chamada Zona 75 abriga mais de 75 mil trabalhadores. De acordo com autoridades locais, para cada vaga gerada na zona, de três a seis novos empregos são criados na comunidade. O salário médio na cidade saltou de US$ 30 mil para US$ 84 mil nos últimos dez anos, impulsionado pelas atividades na ZLC.

A fabricante japonesa Audio-Technica, por exemplo, inaugurou recentemente seu segundo armazém em uma FTZ em San Diego. A empresa importa produtos montados do Japão e da China, dos quais 80% são vendidos nos EUA. As mercadorias ficam armazenadas isentas de tarifa até serem liberadas para o mercado americano.

“Podemos adiar o pagamento das tarifas e melhorar nosso fluxo de caixa”, afirmou Dan Ratley, diretor executivo da cadeia de suprimentos da Audio-Technica. “É uma estratégia que muitas empresas estão adotando.”

Apesar das vantagens, mudanças recentes nas regras impostas por ordens executivas de Trump reduziram alguns benefícios das FTZs. Antes, empresas que importavam insumos e os transformavam em produtos acabados dentro da zona pagavam tarifa apenas sobre o item final. Agora, devem pagar a tarifa mais alta aplicável ao insumo, mesmo que ele tenha sido transformado.

Segundo Melissa Irmen, diretora da Associação Nacional de Zonas de Comércio Exterior, isso tem afetado a competitividade de muitas empresas. “Nossos associados perderam uma importante ferramenta para permanecerem competitivos globalmente. E isso é um grande problema”, afirmou.

Ainda assim, as zonas seguem sendo uma alternativa viável para empresas que buscam reduzir custos e se manter operando diante das incertezas do comércio internacional.