Lula aposta em pacote social para fortalecer base na classe média e periferias
Gás, crédito para reformas e entregadores estão entre as medidas em estudo
Por: Iago Bacelar
28/07/2025 • 10:00
O governo federal articula um pacote de novos programas sociais para ser lançado a partir de agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com foco na classe média e nas periferias urbanas. O conjunto de medidas será apresentado a um ano das eleições de 2026, quando Lula pretende disputar seu quarto mandato. A proposta inclui o Gás para Todos, linhas de crédito para reformas de moradias e um programa voltado a motoristas de aplicativos e entregadores, com o objetivo de ampliar o apoio do presidente nesses segmentos do eleitorado.
A equipe de Lula prevê que os lançamentos ocorram durante viagens pelo país, especialmente às quintas e sextas-feiras, quando o presidente tem priorizado agendas públicas para divulgar ações do governo. O programa Gás para Todos substituirá o atual Auxílio Gás, que beneficia 5,4 milhões de famílias. A nova proposta visa atender até 16,6 milhões de famílias, com um cartão exclusivo para a retirada dos botijões de 13 kg.
O custo estimado da iniciativa é de R$ 2,6 bilhões em 2025 e R$ 5 bilhões em 2026. A Medida Provisória que cria o programa será enviada ao Congresso Nacional nas próximas semanas.
Estratégia eleitoral mira novos segmentos
Com a aproximação da corrida eleitoral, Lula tem intensificado críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e buscado posicionar o governo em "modo campanha", segundo interlocutores do Planalto. A análise interna é de que o discurso de "justiça tributária" e a reação ao tarifaço dos Estados Unidos deram novo fôlego ao governo, mas é necessário ir além da retórica.
O foco agora é a classe média, considerada um público volátil. Segundo levantamento da Quaest, 43% dos eleitores com renda entre dois e cinco salários mínimos avaliam o governo positivamente. Em junho, esse índice era de 39%. A reprovação, no entanto, ainda é alta: 52% desse público desaprovam a gestão federal.
Ao mesmo tempo, o Planalto ressalta a necessidade de manter a base tradicional do presidente. Os programas devem dialogar com a realidade de populações mais vulneráveis, que historicamente compõem o núcleo do apoio a Lula.
Financiamento para entregadores e motoristas de app
Um dos programas em desenvolvimento é voltado a entregadores e motoristas de aplicativos, com a oferta de crédito para compra de motocicletas e automóveis. A previsão é de que o lançamento ocorra em agosto. O segmento é visto como favorável ao bolsonarismo e apresentou resistência à tentativa anterior do governo de regulamentar o setor.
A proposta atual é coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social, responsável por administrar um fundo de até R$ 10 bilhões voltado a micro e pequenos empreendedores dentro do programa Acredita. A Casa Civil ainda analisa os detalhes finais do projeto.
Segundo o ministro Wellington Dias (PT), o objetivo é aliviar os custos da categoria: “Esses trabalhadores têm um custo que reduz sua capacidade de renda, com aluguel da moto e equipamentos”, afirmou.
O ministro complementa que boa parte desses profissionais está cadastrada no Cadastro Único e recebe o Bolsa Família, o que justifica a priorização do grupo nas políticas públicas.
Reformas habitacionais também estão no radar
Outro eixo do pacote é o incentivo à reforma de moradias, com duas linhas de financiamento: uma de até R$ 5 mil, destinada a pequenas obras, e outra de até R$ 30 mil, para reformas maiores. O Ministério das Cidades conduz os estudos, mas ainda há indefinições sobre a origem dos recursos necessários para a execução do programa.
A pasta estuda mecanismos para garantir o acesso ao crédito pelas famílias sem comprometer a sustentabilidade fiscal. O desenho final será submetido ao Planalto nas próximas semanas.
Pressão por entregas no modo ‘urgência’
Aliados de Lula dizem que o presidente está em modo “urgência”, exigindo celeridade nos lançamentos de programas. As pastas da Saúde e da Educação são as mais pressionadas a acelerar inaugurações e entregas. Toda nova ação precisa ser comunicada ao Planalto, que avalia caso a caso a viabilidade de participação presidencial nos eventos.
Entre as iniciativas recentes que ganharam destaque está o Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde, que permite o uso de clínicas privadas para acelerar exames e cirurgias do SUS.
Apesar dos esforços para alavancar a imagem de Lula, especialistas ponderam sobre os limites do impacto eleitoral. O cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, avalia: “O eleitor está mais exigente. Em relação às políticas sociais, ele parece acreditar que o governo não faz mais do que sua obrigação”, disse.
Segundo Nunes, há uma mudança de percepção: o medo de perder benefícios sociais com uma eventual troca de governo perdeu força nos últimos anos, o que exige novas estratégias por parte do Planalto.
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