Colisões com postes crescem na Bahia e revelam impacto da violência no trânsito
Estado enfrenta alta de colisões, mortes e internações no primeiro semestre
Por: Iago Bacelar
04/08/2025 • 18:40
O número de colisões de veículos em postes na Bahia cresceu 8% no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com levantamento da Neoenergia Coelba, foram 1.899 ocorrências registradas entre janeiro e junho, contra 1.748 no mesmo intervalo de 2024.
Salvador, Feira e Conquista lideram, mas interior surpreende
Feira de Santana, Salvador e Vitória da Conquista aparecem entre os municípios com mais casos, mas a presença de Luís Eduardo Magalhães, cidade do oeste baiano e 17ª mais populosa do estado, chamou atenção. Para o gerente de operações da Coelba, Ricardo Bastos, o destaque se explica pelo perfil econômico da região. "Essa é uma região de pujança econômica, ligada às exportações agrícolas e com grande fluxo de veículos pesados", explicou. Ele defende uma estratégia específica para o interior diante do crescimento de colisões.
Além de danos à rede elétrica e riscos à vida, essas colisões resultam em interrupções no fornecimento de energia. Ainda assim, apenas 32% das ocorrências afetaram o serviço, segundo Bastos, que atribui o número à utilização de tecnologias que permitem isolar trechos e religar o sistema automaticamente.
A recomendação da concessionária é que, em caso de colisão, os ocupantes permaneçam dentro do veículo, evitem contato com partes metálicas, não se aproximem de cabos rompidos e entrem em contato pelo telefone 116 ou com o Corpo de Bombeiros, no 193.
Custos e riscos recaem sobre infratores
Ricardo Bastos destacou que a troca de cada poste custa em média R$ 6 mil, valor que pode ser cobrado do condutor envolvido caso haja boletim de ocorrência e condenação judicial. Ele também lembrou que o restabelecimento da rede depende da liberação da perícia, o que pode atrasar o atendimento.
Os principais fatores apontados para os acidentes são excesso de velocidade, álcool ao volante, uso do celular e imprudência em geral.
Trânsito baiano registra alta em sinistros, mortes e internações
O cenário se repete nas estradas federais que cortam o estado. Segundo a Polícia Rodoviária Federal na Bahia, o primeiro semestre de 2025 terminou com 209 mil infrações registradas e 1.956 sinistros. Já o Detran-BA, com base nos dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), apontou 413 mortes e 366 internações somente em janeiro.
Em 2024, o estado teve 2.887 mortes no trânsito, o maior número da última década. "Quase 3 mil pessoas perderam a vida, sendo que 90% destas mortes poderiam ser evitadas com o respeito à sinalização e às regras de não ingerir álcool e não falar ao celular", destacou Rodrigo Pimentel, diretor-geral do Detran-BA.
Ele afirmou que a naturalização desses óbitos ainda é um obstáculo.
"É uma questão histórica e cultural", avaliou, comparando com acidentes aéreos, que costumam gerar maior comoção na sociedade.
Campanhas e capacitação miram mudança de cultura
Para tentar reverter esse quadro, o Detran-BA prepara ações como a Semana Nacional do Trânsito, que acontece em setembro, com foco na educação de crianças e jovens. "Os países que tiveram sucesso investiram na formação das novas gerações para que elas cresçam obedecendo às regras", disse Rodrigo, lembrando que o público adulto tende a responder apenas a multas e fiscalização.
O órgão também aposta na formação de motociclistas, grupo que hoje representa 50% da frota motorizada do estado. O programa Condução Decente, já em execução, pretende capacitar 6,5 mil motociclistas em 75 cidades, com apoio de vários órgãos estaduais. Ao final do curso, os participantes recebem kit gratuito com EPIs, incluindo capacete, colete, joelheiras, cotoveleiras, antena de proteção e bolsas de transporte.
Salvador amplia ações e testa motofaixas
Na capital, a Transalvador também concentra esforços nos motociclistas. Das 176 mortes no trânsito em 2024, metade envolveu motos, segundo o gerente de trânsito Marcos Reis.
"Nossa gerência de educação tem trabalhado em campanhas em prol da redução da velocidade, uso de equipamentos de segurança e formalização, com a aquisição da CNH", informou.
Neste semestre, foram 60 acidentes com mortes e 1.768 com feridos, enquanto em 2024, no mesmo período, houve 69 mortes e 1.712 feridos. Em março, a gestão implantou faixa exclusiva para motos na Avenida Bonocô, que ainda está em fase experimental. Novos dados devem ser divulgados em breve.
Estudos estão em andamento para expandir as motofaixas a outras avenidas de grande fluxo, como Paralela, ACM e Orla. "Nós atuamos avaliando locais e horários com maior incidência de sinistros, para adotarmos medidas como instalação de redutores de velocidade, fiscalização e câmera de monitoramento", disse Marcos.
"O trânsito seguro é um direito de todos e nós temos que ter consciência, como cidadãos, de respeitar o outro e obedecer as regras", completou.