Prefeituras da Bahia gastaram até R$ 10 milhões a mais do que declararam ao Painel da Transparência dos Festejos Juninos, do Ministério Público da Bahia (MPBA). Segundo levantamento feito pelo Grupo A TARDE, com base em dados do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), grades oficiais de atrações, Diários Oficiais e o próprio Painel, houve divergência entre os valores apresentados e os montantes efetivamente desembolsados.

A diferença aparece em oito das dez cidades com os maiores gastos com atrações musicais. Apenas os municípios de Serrinha e Quijingue apresentaram dados compatíveis com os informados ao MP. Serrinha declarou gasto de R$ 8,74 milhões com 28 atrações, e Quijingue informou R$ 5,25 milhões com 26 artistas.

Conceição do Jacuípe lidera discrepância

O Arraiá do Berimbau, em Conceição do Jacuípe, lidera a lista de discrepâncias. Das 48 atrações contratadas, apenas 16 foram informadas ao MPBA. Nomes como Belo, Mari Fernandez, Bell Marques, Jorge e Mateus e Mikael Santos não constam nos dados oficiais, embora tenham se apresentado. O gasto total declarado foi de R$ 5,1 milhões, mas os valores reais são superiores.

Cruz das Almas teve dois circuitos e gastos não declarados

Em Cruz das Almas, a administração declarou R$ 9,5 milhões em contratações, com 29 artistas listados. No entanto, o número real de atrações ultrapassa 40 no circuito principal e 30 em outro circuito, sendo que muitas não foram consideradas por ausência de informações. O cruzamento de dados aponta que o município gastou pelo menos R$ 10,98 milhões.

Irecê teve shows não declarados de artistas com altos cachês

A cidade de Irecê, no centro-norte do estado, declarou ter gasto R$ 7,91 milhões no São João 2025. No entanto, o levantamento identificou R$ 9,68 milhões em desembolsos reais. Estão entre os artistas não informados ao MPBA nomes como João Gomes e Zé Vaqueiro, com cachês de R$ 500 mil e R$ 430 mil, respectivamente. Cinco atrações somaram R$ 1,56 milhão não declarados.

Diferença de R$ 1 milhão em Santo Antônio de Jesus

Em Santo Antônio de Jesus, cidade do Recôncavo Baiano, a prefeitura declarou R$ 7,27 milhões em gastos, mas o total apurado foi de R$ 8,285 milhões. Jorge e Mateus e Simone Mendes foram algumas das atrações. Outras 20 atrações não foram incluídas no valor final por falta de informação sobre os cachês.

Jequié teve nomes no Diário Oficial, mas não na grade oficial

No Oeste da Bahia, Jequié informou gasto de R$ 8,9 milhões, mas a análise revelou R$ 10,13 milhões. Cerca de 21 artistas listados nos Diários Oficiais e documentos de contratação não estavam na grade oficial, entre eles Anna Katarina, com cachê de R$ 120 mil. O show de Gusttavo Lima, segundo a prefeitura, foi pago pela iniciativa privada.

Outros municípios também registraram inconsistências

Em Eunápolis, que realiza o “Pedrão”, os gastos declarados foram de pouco mais de R$ 5 milhões, sem a inclusão de valores pagos a artistas como Bell Marques, Maiara e Maraisa, Zé Neto e Cristiano e Henrique e Juliano.

Já em Senhor do Bonfim, das 34 atrações, apenas 28 foram informadas. O cachê de Xand Avião, que se apresentou no evento, não aparece no painel. A festa também recebeu recomendações do MPBA após vistoria identificar falhas estruturais no Espaço Gonzagão, principal palco do evento.

Em Livramento de Nossa Senhora, a prefeitura declarou pouco mais de R$ 5 milhões, mas valores pagos a artistas como Adelmário Coelho e Vitor Fernandes não foram disponibilizados.

Ministério Público estabelece novo prazo para envio de dados

O Ministério Público da Bahia esclareceu que nem todos os processos de contratação foram finalizados até o encerramento da primeira fase de coleta de dados, em 6 de junho. Uma segunda etapa está em andamento, com prazo até 31 de julho para que os municípios encaminhem informações complementares e corrijam eventuais divergências.

Segundo nota oficial, "eventuais divergências podem ocorrer e devem ser sanadas até essa data final".