Vinci estuda cobrança simbólica e Semop promete isenção para apps no aeroporto de Salvador
Modelo de cobrança ainda é avaliado pela concessionária Vinci
Por: Iago Bacelar
18/07/2025 • 11:00
Uma parceria entre a Vinci Airports e a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) pode solucionar o antigo impasse sobre a falta de estrutura para motoristas de aplicativo nas proximidades do aeroporto da capital baiana. O projeto prevê a revitalização de um estacionamento desativado para abrigar os trabalhadores que aguardam o chamado de passageiros.
O espaço fica na Avenida Tenente Frederico Gustavo dos Santos, pouco antes do tradicional bambuzal. O local já é utilizado informalmente por condutores de plataformas como Uber e 99, que ocupam uma via interna em frente ao antigo estacionamento.
Estrutura voltada para os trabalhadores
De acordo com o secretário de Mobilidade, Pablo Souza, o projeto tem como foco oferecer um espaço seguro e bem estruturado. A proposta foi revelada em entrevista à rádio Antena 1 Salvador 100.1 FM.
"Nós fizemos um projeto junto com a Vinci pra acomodar os motoristas de aplicativo que ficam naquele acesso do aeroporto. Anexo à região onde eles ficam tem o antigo estacionamento, então aquela região vai ser revitalizada", afirmou Souza. Ele completou dizendo que o objetivo é oferecer estrutura adequada para que os profissionais desenvolvam seu trabalho com mais dignidade.
Gratuidade para os motoristas
O secretário explicou que a Vinci será responsável pela gestão do espaço, e que a proposta é que não haja cobrança para os motoristas. Ainda assim, existe a possibilidade de uma taxa simbólica ser cobrada dos passageiros, como forma de manter a operação do local.
"Não vai ser cobrado nada dos motoristas de aplicativo pra estarem lá. Esse modelo de remuneração, a Vinci tem trazido uma referência de outras cidades", explicou. Segundo ele, essa taxa poderia variar entre um ou dois reais, mas ainda está em análise e não será repassada aos trabalhadores.
Obras já iniciadas
Ainda não há prazo para que o novo estacionamento seja disponibilizado, mas as obras na área de embarque e desembarque já começaram, conforme apontou o secretário.
"Essas obras já se iniciaram, mas as obras que se referem ao projeto que eles chamam de 'Kiss & Fly', que é uma zona de embarque e desembarque dos passageiros no aeroporto", disse Souza. Ele acrescentou que, após essa fase, as intervenções serão direcionadas à área dos motoristas de aplicativo.
Projeto foi aprovado pela prefeitura
O projeto da Vinci já foi aprovado pela Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur). A informação foi confirmada pela própria concessionária, que ressaltou o impacto positivo da medida para a organização do tráfego e a experiência de passageiros e motoristas.
Segundo nota enviada ao Bahia Notícias, a iniciativa também prevê a reorganização do meio-fio, o que deve facilitar o fluxo de veículos na área de embarque e desembarque.
Modelo internacional
Inspirado em experiências internacionais, o modelo "Kiss & Fly" prevê tempo limitado de permanência para embarque e desembarque. Caso o condutor ultrapasse o período gratuito — geralmente de até 10 minutos —, será cobrada uma taxa.
Esse tipo de sistema já funciona em aeroportos administrados pela Vinci em Portugal, como o de Lisboa e o de Ponta Delgada. A proposta busca reduzir o congestionamento e coibir o transporte clandestino.
Taxistas criticam falta de diálogo
A implantação do novo sistema já gera repercussões. O presidente da Associação Geral dos Taxistas, Denis Paim, demonstrou preocupação com a falta de diálogo com toda a categoria.
"E se for um passageiro cadeirante, por exemplo? Vai haver tempo extra? Como fica o pagamento?", questionou. Ele pediu mais clareza nas informações e mais espaço para discutir as mudanças propostas.
Histórico de conflitos
A falta de estrutura para motoristas de aplicativo nas proximidades do aeroporto não é recente. Desde a chegada da Uber à Bahia, em 2016, a categoria enfrenta resistência e dificuldades operacionais em Salvador.
Na época, a Câmara Municipal chegou a aprovar um projeto proibindo o serviço, que mesmo assim ganhou força ao longo dos anos. Hoje, estima-se que cerca de 40 mil motoristas atuem na capital e Região Metropolitana, número bem acima do limite previsto na lei municipal de 2019, que autorizava até 7.200 motoristas — mesmo número de licenças de táxi.
Barracas e conflitos com a fiscalização
Com o aumento da demanda, barracas de comida, bebida e serviços foram instaladas na calçada próxima ao estacionamento, o que gerou ações da prefeitura. Em 2023, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e a Guarda Municipal removeram estruturas irregulares.
Também houve críticas frequentes dos motoristas sobre a atuação da Transalvador, que aplicava multas no local, e tentativas de negociação para uso formal do espaço. Em outubro do mesmo ano, o então vereador Átila do Congo chegou a tentar alugar o estacionamento, mas teve a proposta recusada pela Vinci, que já desenvolvia um projeto próprio para a área.
Na época, a concessionária afirmou manter contato com as empresas de transporte por aplicativo e explicou que só firma contratos com pessoas jurídicas. O grupo afirmou também que o objetivo é melhorar continuamente a experiência de motoristas e passageiros.
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