Khamenei fala após trégua no Oriente Médio
Irã contesta danos a programa nuclear
Por: Ana Beatriz Fernandez Martinez
26/06/2025 • 14:26
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fez nesta quinta-feira (26) sua primeira aparição desde o início do cessar-fogo com Israel, em vigor desde o início da semana. Em seu pronunciamento, ele declarou que o Irã saiu vitorioso do conflito e aproveitou para criticar os Estados Unidos, afirmando que a República Islâmica "deu um tapa na cara da América".
“A República Islâmica venceu e reagiu com firmeza. Eles perceberam que, se não agissem, o regime sionista teria sido eliminado”, declarou Khamenei durante o discurso transmitido pela emissora estatal. A fala também exaltou um ataque iraniano contra uma base americana no Catar, ocorrido no último dia 23, que, segundo o líder, simboliza a força militar do país, mesmo sem deixar mortos.
Essa foi a primeira manifestação pública de Khamenei desde 19 de junho, quando ele desapareceu dos holofotes após a escalada da tensão militar. Aparecendo visivelmente debilitado na gravação, o líder utilizou o espaço para destacar a resistência iraniana frente aos ataques liderados por Washington e Tel Aviv.
Em comunicado publicado na última quarta-feira (25), a CIA informou que os bombardeios americanos realizados antes do cessar-fogo causaram danos significativos à infraestrutura nuclear iraniana. A agência afirma que “instalações estratégicas foram destruídas e levarão anos para serem reconstruídas”.
O Irã, no entanto, refuta essas alegações. Segundo o governo, os danos foram mínimos e as capacidades nucleares do país continuam preservadas. A versão iraniana é reforçada pelo discurso de Khamenei, que defende que a ofensiva foi repelida e resultou em fortalecimento político interno.
Enquanto isso, a Casa Branca prepara uma coletiva do secretário de Defesa, Pete Hegseth, também marcada para esta quinta (26). De acordo com o presidente Donald Trump, serão apresentadas “provas conclusivas” de que o programa nuclear iraniano foi severamente afetado. A declaração tenta responder à divulgação, pela CNN, de um relatório preliminar que indicaria apenas um atraso temporário no projeto atômico iraniano.
O governo iraniano também reagiu com dureza à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), após o secretário-geral Mark Rutte elogiar Trump, chamando-o de “líder forte e pacificador”. Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, essa posição é “vergonhosa e criminosa”.
Baqaei declarou que qualquer país ou aliança que apoie um ataque contra um Estado soberano se torna “cúmplice” e demonstra falta de integridade diplomática. A crítica explicita o incômodo do Irã com o respaldo internacional que os Estados Unidos têm recebido após a ofensiva.
O cessar-fogo, articulado diretamente pelo governo Trump, é considerado instável e depende de acordos paralelos envolvendo interesses no Golfo Pérsico, Líbano e Iraque. Ao mesmo tempo, Washington estuda novos pacotes de sanções contra Teerã, caso haja qualquer sinal de reativação do programa nuclear em instalações atingidas.
A retórica combativa de Khamenei busca fortalecer sua imagem interna, mas também acirra tensões diplomáticas em um momento delicado. Ainda não está claro se a infraestrutura nuclear do país foi preservada ou se a trégua será suficiente para evitar novos conflitos nos próximos meses.
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