Cena musical baiana cobra igualdade e pede mais políticas culturais
Guga Meyra aponta desigualdade estrutural e defende mais investimento público
Por: Marcos Flávio Nascimento
24/11/2025 • 15:00 • Atualizado
A discussão sobre a igualdade musical em Salvador ganhou destaque nesta segunda-feira (24), durante o Portal Esfera no Rádio, apresentado por Luis Ganem e transmitido pela Itapoan FM (97,5). O tema foi um dos pontos centrais da entrevista com o produtor cultural Guga Meyra, que avaliou os desafios enfrentados por novos artistas e criticou a ausência de políticas públicas capazes de acompanhar a força criativa da cidade.
Logo no início da conversa, Guga ressaltou que Salvador é um território naturalmente fértil em cultura e potência artística, mas ainda marcado por desigualdades que dificultam a renovação da cena. Segundo ele, a dependência de poucos espaços e a falta de editais contínuos prejudicam quem tenta construir carreira.
“A gente vive em uma cidade riquíssima culturalmente, mas que não trata a música com a mesma prioridade. Falta política pública de verdade e sobra vontade dos artistas de fazer acontecer”, afirmou.
Ao aprofundar o debate, o produtor destacou que a redução de casas de show após a pandemia impactou diretamente a circulação de novas bandas. Ele lembrou que muitos espaços migraram para modelos gastronômicos, o que diminuiu palcos e horários disponíveis.
“Hoje o artista precisa disputar um lugar que já era pequeno e agora ficou ainda menor. E quando não existe incentivo, essa disputa vira quase uma barreira intransponível para quem está começando”, disse Guga.
No decorrer da entrevista, o produtor também comentou o peso do digital na carreira de músicos baianos. Para ele, a presença na internet se tornou obrigatória, porém ainda não substitui políticas que garantam condições mínimas de profissionalização.
“O artista virou gestor, marqueteiro, roteirista e ainda precisa subir no palco com tudo pronto. Sem apoio, esse caminho fica injusto e não reflete a potência real do que a Bahia produz”, avaliou.
Entre os nomes que ilustram a nova geração em ascensão, Guga citou artistas como "Jaca", "Digo" e "Lincoln", apontando que o público busca essa renovação, mas carece de estrutura para vê-la crescer plenamente. Ele defendeu que a prefeitura e o governo do estado precisam ampliar editais, qualificar equipamentos culturais e dialogar com quem faz a cena diariamente.
“Se a gente quer igualdade musical, precisa tratar o artista local como prioridade. Tem muito talento aqui pedindo passagem e esperando apenas condições justas” afirmou.
Ao final da entrevista, Guga reforçou que a cidade tem potencial para se reafirmar como referência nacional, mas depende da atuação firme do poder público para democratizar oportunidades. Para ele, fortalecer a música baiana significa fortalecer a própria identidade cultural de Salvador, o que passa por garantir respeito, investimento e caminhos reais para quem já movimenta a cena.
