Sebrae expõe desafios de gênero e raça que impactam empreendedoras na Bahia
Rosângela Gonçalves detalha barreiras enfrentadas por mulheres, sobretudo negras, e o perfil de quem busca apoio no Sebrae Delas
Por: Domynique Fonseca
02/12/2025 • 17:00
No programa Portal Esfera no Rádio, transmitido pela Itapoan FM (97,5), desta terça-feira (2), a convidada foi Rosângela Gonçalves, coordenadora estadual do Prêmio Mulher de Negócios e do programa Sebrae Delas na Bahia. Conduzida por Luis Ganem, ela abordou o cenário do empreendedorismo feminino com foco na experiência de mulheres negras, maioria entre as empreendedoras do estado.
Durante a conversa, Rosângela destacou que o avanço das mulheres no empreendedorismo ainda esbarra em barreiras estruturais ligadas a gênero, raça e outros marcadores sociais que influenciam diretamente as oportunidades.
“Quanto mais marcadores sociais acumulamos, mais desafios surgem. Ser mulher já coloca obstáculos adicionais. Ser mulher negra amplia ainda mais essas barreiras, porque vivemos numa sociedade construída com bases machistas e racistas”, afirmou.
Ela citou pesquisas recentes, incluindo um estudo divulgado no dia 18, que mostram avanço na renda das mulheres negras empreendedoras, embora o resultado ainda seja inferior ao de mulheres brancas e homens brancos. Para enfrentar essa desigualdade, o Sebrae atua também por meio do Programa Plural, que oferece qualificação a grupos sub-representados, como pessoas negras, LGBTQIA+, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência.
“Em Salvador, a cidade mais negra fora da África, 77% das empreendedoras atendidas pelo Sebrae são mulheres negras. Nosso trabalho, portanto, não tem apenas recorte de gênero, mas também de raça”, observou.
Três barreiras centrais para quem empreende
Rosângela explicou que, segundo levantamentos do Sebrae, pessoas negras enfrentam três dificuldades principais na jornada empreendedora. A primeira é o acesso ao crédito, problema recorrente e que impacta de forma ainda mais intensa mulheres negras.
A segunda barreira é a falta de mentoria com experiências semelhantes.
“É diferente ser orientada por alguém que entende o impacto da desigualdade racial porque já vivenciou isso. A ausência de referências atrapalha o caminho”, explicou.
A terceira dificuldade está relacionada ao posicionamento profissional. Muitas mulheres empreendem, mas não conseguem transformar o negócio em fonte de renda suficiente.
“Há empreendedoras que não chegam a faturar um salário mínimo. É preciso sair do amadorismo e estruturar o negócio para que ele seja sustentável”, completou.
Quem busca o Sebrae Delas na Bahia
O perfil das empreendedoras que procuram o Sebrae é diverso, mas segundo a coordenadora, uma parcela significativa está em fase inicial ou intermediária do negócio.
“Recebemos muitas mulheres que ainda enxergam o empreendimento como renda extra, um bico. Por isso, acabam mantendo uma gestão intuitiva e sem planejamento”, explicou.
No entanto, o programa também acompanha empreendedoras que já estruturaram seus negócios e agora buscam novos passos, como expansão, internacionalização, aumento do faturamento, digitalização e aprimoramento da gestão.
“Temos desde mulheres que estão se reconhecendo como empreendedoras até aquelas que já passaram por desafios iniciais e agora querem crescer. É esse o perfil que mais nos procura”, concluiu Rosângela.
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