Para médicos, convencer a população a prevenir é o maior desafio contra o HIV
Saiba em quais locais está disponível a testagem rápida, importante elemento no diagnóstico
Por: Sued Mattos
01/12/2025 • 18:37 • Atualizado
Todo dia primeiro de dezembro é destinado a luta internacional contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Nesse meio tempo, Já se passaram 43 anos desde que o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) teve seu primeiro caso confirmado no Brasil, em 1932.
Desde então, o diagnóstico da doença e a luta pela prevenção passam por altos e baixos. Hoje, após o boom dos casos nas décadas de 80 e 90, convencer a população a se prevenir é o maior desafio contra a doença, de acordo com os especialistas.
O HIV atua diretamente no sistema imunológico, interferindo no funcionamento das células de defesa. A infecção pode evoluir desde a fase aguda até alcançar sua forma mais avançada, conhecida como Aids.
De acordo com os dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), há uma estabilidade na Bahia no registro de novos casos no processo da doença, e aumento dos casos de HIV. Neste ano, os dados preliminares da taxa de incidência de Aids no estado são de 5,7, já a taxa de HIV se concentra até então em 18,3.
Captura De Tela De 2025 12 01 18 32 47
Até o momento, 426 baianos morreram por Aids neste ano. De 2015 a 2024, foram registrados 6.126 óbitos ao todo.
‘Desleixo’ dos jovens com a prevenção
Ao Portal Esfera, o médico infectologista e pesquisador especializado em HIV, Maurício Campos, afirma que ainda hoje a melhor forma de prevenção contra a doença é o uso de preservativo, que entre os jovens tem sido subestimado.
“Hoje o maior desafio em relação à doença é a gente fazer a população entender que ela continua sendo a doença incurável, ela é uma doença crônica, tratável, a gente avançou muito no tratamento, na qualidade de vida, que bom que isso aconteceu, mas isso talvez tenha gerado na população a falsa percepção de que o HIV não mata e de que o HIV tem cura e efetivamente não tem. Então, nosso maior desafio em consultório, e eu tenho enfrentado isso com muita frequência, é fazer a população entender que existe sim a necessidade de prevenção”, elucida.
Helena Vieira Lima, gerente de Atenção Especializada da Secretaria de Saúde de Salvador (SMS), destaca que o diálogo e as estratégias de prevenção são os maiores aliados para informar o público jovem.
“Os jovens, principalmente agora, dessa geração mais atual, eles, de fato, não conviveram com a parte da história do HIV que causava justamente esse maior desafio, que deixava as pessoas com medo. Isso daí também não é bom. A gente precisa encarar de frente. Eu acho que ter medo não é melhorar a prevenção de forma nenhuma, então o que a gente precisa fazer é apresentar cada vez mais as formas existentes de prevenção que existem, compreender o perfil de cada usuário, cada usuária, para que a gente possa estar sempre apresentando as melhores estratégias a se seguir”, diz.
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O médico lembra que a Geração X (nascidos entre 1965 e 1980) cresceu com o fantasma da doença assombrando a adolescência e tiveram relações sexuais permeadas pelo pânico da possibilidade de infecção. Esse contexto, totalmente diferente dos jovens das novas gerações que não viveram esse momento trágico da história da humanidade, precisa ser dialogado entre a nova geração para que não se repita.
“O maior desafio, como eu falei anteriormente, é, primeiro, educar pela história, né? Acho que fazer a população, especialmente os mais jovens, entenderem o que foi o HIV e os desafios que a gente teve que enfrentar para chegar até aqui”, aponta.
A integrante da SMS também destaca que o maior desafio da rede de saúde é manter o indivíduo no tratamento, já que em muitos casos há o abandono.
“Hoje em dia, quem vive com HIV é uma pessoa que vai ter que se cuidar a vida toda. Então, é motivar essa pessoa a adesão ao tratamento, porque o tratamento não deve ser, hipótese nenhuma, interrompido”, explica Lima.
Avanços
O médico Maurício Campos aponta que houveram avanços significativos no diagnóstico e prevenção da doença no Brasil e no mundo nas últimas quatro décadas.
“Em relação à forma de diagnosticar, a gente avançou muito, até porque no passado fazer o diagnóstico de HIV, além de muito custoso, oneroso, o que afastava inclusive pessoas e o próprio governo de investir maciçamente, a gente também diminuiu muito o tempo entre a coleta de amostra e o diagnóstico, né? Surgiram os testes rápidos que me dão resultado em 15 minutos, os outros testes sorológicos que são feitos em laboratórios, eles tiveram a janela diminuída, então se no passado se demorava 15 dias para um resultado, hoje a gente tem um resultado até no mesmo dia”, explica.
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O infectologista diz ainda que métodos recentes, como o Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e o Profilaxia Pós-Exposição (PEP), são exemplos de como a ciência evoluiu no tratamento da doença. Além das campanhas, que ele classificou como “maciças”, nos últimos anos, as quais facilitaram o controle do HIV.
“Logo quando o HIV surgiu, né, e ainda naqueles anos tenebrosos da década de 80, se falava em abstinência sexual. Depois a gente enfim entendeu que o preservativo era a única forma de controle da prevenção do HIV. Só que hoje a gente trabalha na perspectiva de mandala, ou seja, eu tenho uma série de ações que podem ser feitas em conjunto para minimizar o risco de infecção, que vai desde o uso de preservativo, que continua sendo o método mais adequado até por exemplo, métodos químicos que acabam impedindo a infecção”, elucida Campos.
De acordo com Helena Vieira Lima, gerente de Atenção Especializada da Secretaria de Saúde de Salvador (SMS), a capital baiana avançou no enfrentamento da doença com o diagnóstico mais veloz e com as campanhas de mobilização.
“Hoje a gente tem a ampliação da testagem rápida, uma testagem que pode ser feita em qualquer unidade básica de saúde, nos serviços de atenção especializada também, e o usuário rapidamente tem acesso ao seu diagnóstico”, diz Lima.
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Prevenção
A integrante da SMS lembra ainda que os métodos de prevenção contra o HIV estão disponíveis.
“A gente também tem os insumos de prevenção que estão aí nas unidades de saúde disponíveis, como os preservativos internos, externos, gelo lubrificante, materiais informativos, além do apoio de toda a equipe multidisciplinar que está disponível para tirar dúvidas”, explica Helena Vieira Lima.
Além disso, existem Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) específicas para que a população tenha acesso aos métodos de profilaxia.
“Temos a profilaxia pré-exposição, a PrEP, que a gente disponibiliza nos serviços de atenção especializada e a atenção primária agora também está iniciando essa ampliação para a sua rede. Temos a profilaxia pós-exposição para aqueles casos onde há uma exposição de maior risco para HIV e essas pessoas podem se dirigir a uma das nossas cinco UPAs que têm essa profilaxia, como a UPA Barris, a Hélio Machado, a Alfredo Bureau, a UPA Valéria e a UPA Adroaldo Albergaria”, aponta.
José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Dados
A maior concentração de casos da doença continua sendo entre pessoas do sexo masculino, totalizando o 69,1% dos casos notificados entre 2015 e 2024. Jovens adultos, entre 20 e 34 anos, continuam sendo a maioria entre os acometidos, representando 46,6% dos casos.
A Sesab aponta também que apesar da incidência ser maior entre os jovens adultos, observou-se uma alta de casos entre todas as idades. No que diz respeito à escolaridade, os que possuem ensino médio completo, representam em média 18,5%. Ensino Fundamental, 5ª a 8ª série tem a média de 11%.
Para a variável raça/cor, foi realizada uma análise dos últimos 10 anos (2015 a 2024). A distribuição mostra aproximadamente 52,1% dos casos em pardas, representando mais da metade das ocorrências, 24,4% dos casos de pretas e 9,4% dos casos em brancas, sendo que em torno de 13,1% das notificações expressam pessoas diagnosticadas com HIV/Aids que não foram classificadas quanto à raça/cor.
